Relatório Executivo: Ciclo de Crédito no Brasil (Julho-Outubro 2025) e Impacto 3T25

Ciclo de Crédito no Brasil (Julho-Outubro 2025) e o Impacto no 3T25

Análise Nuances do Risco de Crédito e Fundamentação do Viés Negativo para Bancos

O presente relatório técnico examina a dinâmica do mercado de crédito brasileiro, confirmando a **deterioração acentuada da qualidade do ativo (PF)**. Contudo, a análise projeta uma **divergência importante para o 3T25**, sugerindo que o **risco idiossincrático (gestão interna)** se sobrepõe ao risco sistêmico, diferenciando as expectativas para Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11).

I. O Ciclo de Crédito Brasileiro sob a Ótica do Banco Central: Deterioração Confirmada

1.1. Contexto Monetário e o Alto Custo do Risco

O 3T25 foi balizado pela manutenção da Selic em **15% ao ano**, uma política monetária estritamente contracionista. Esta persistência eleva o custo de captação dos bancos e pressiona a capacidade de pagamento dos tomadores. O dilema central é a expansão do NII (Margem Financeira) via spreads maiores, em contrapartida ao crescimento exponencial do **Custo de Risco (PDD)**, que vulnerabiliza o Lucro Líquido.

1.2. Inadimplência e Endividamento: O Sinal de Alerta dos Dados Agregados

A inadimplência do crédito livre alcançou **5,4%** em setembro de 2025, com aumento de 1,0 p.p. em doze meses. O principal vetor de piora é o segmento de Pessoas Físicas (PF), cuja inadimplência atingiu **6,8%** (aumento de 1,3 p.p. a/a).

A expansão robusta da carteira de crédito familiar (+11,4% a/a) em um cenário de inadimplência acelerada (+1,3 p.p. a/a) sugere uma **expansão de risco**, expondo os bancos à **NPL Trap**.

Tabela 1: Indicadores Macroeconômicos de Crédito Brasil – Junho a Setembro de 2025

Indicador Setembro/2025 (Dado mais recente) Variação Anual (p.p.) Tendência Principal
Inadimplência Crédito Livre Total 5,4% +1,0 p.p. Forte Deterioração
Inadimplência Crédito Livre Famílias 6,8% +1,3 p.p. **Crítica / PF**
Comprometimento de Renda Famílias 27,9% +1,0 p.p. Aumento Estrutural

II. Indicadores-Chave de Performance (KPIs) para o 3T25: PDD e Custo de Risco

2.1. O PDD como Consumidor Primário de Lucro

Em um cenário de inadimplência alta, a **gestão do PDD** é o principal fator de diferenciação do Lucro Líquido. O mercado projeta caminhos divergentes:

  • **Santander:** Projeção de **aumento dos NPLs de curto prazo**, resultando na **elevação do PDD** e do Custo de Risco. O impacto do risco sistêmico se manifesta agudamente neste balanço.
  • **Bradesco:** Expectativa de **estabilidade ou corte no PDD** (vs. trimestres anteriores). A tese é de antecipação do provisionamento, permitindo que o PDD atue como impulsionador de lucro no 3T25, mesmo com NPL alto (estimado em 7,9%).

2.2. Margem Financeira (NII) e o Equilíbrio de Receita

O NII do Bradesco é projetado para crescimento sequencial de **3%** (t/t), vital para compensar o Custo de Risco. No entanto, se o Custo de Risco crescer em ritmo superior, o NII elevado não será suficiente para garantir a rentabilidade.

III. Análise da Temporada de Balanços 3T25: Bradesco vs. Santander

3.1. Bradesco (BBDC4): O Caminho da Recuperação Gradual

O consenso projeta Lucro Líquido de **R$ 6,3 bilhões** (+21% a/a) e **ROAE em 14,9%**. Essa recuperação é sustentada pela estabilização do risco de crédito e pela expansão do NII. O Bradesco é visto como tendo passado pelo pico de provisão, o que **mitiga o viés negativo macroeconômico** devido à sua execução idiossincrática.

3.2. Santander Brasil (SANB11): Risco de Curto Prazo em Aumento

O Santander enfrenta expectativas mais desafiadoras com a projeção de **aumento nos NPLs de curto prazo** e consequente elevação do PDD, pressionando o Lucro Líquido e mantendo a rentabilidade ($\text{ROE}$ atual: $10,09\%$) sob pressão. O seu *valuation* em **$\text{P/VP}$ $0,89\text{x}$** reflete e valida essa cautela.

IV. Conclusão e Tese de Investimento: Diferenciando o Risco

4.1. Consolidação da Tese: Risco Sistêmico vs. Gestão Idiossincrática

O Custo de Risco é o fator determinante do 3T25. A cautela geral é justificada, mas o impacto diverge:

1. Santander (SANB11): Viés Negativo Confirmado e Aprofundado

Projetado para enfrentar **aumento de NPLs e PDD**. O risco é imediato e agudo, confirmando o viés negativo de curto prazo e o desconto no *valuation*.

2. Bradesco (BBDC4): Viés Negativo Mitigado pela Recuperação

Projeta **estabilização do NPL e crescimento do Lucro Líquido/ROE**. A gestão interna está neutralizando o risco macro, posicionando o papel para um potencial *upside* de reavaliação.

Tabela 2: Projeções Consolidadas (Consenso) 3T25 para BBDC4 e SANB11

Métrica (3T25) Bradesco (BBDC4) – Projeção Santander (SANB11) – Projeção Tendência Implícita de Risco
Lucro Líquido R$ 6.3 Bilhões (Aprox.) Pressionado BBDC4 em Recuperação
Expectativa de NPLs (Curto Prazo) Estável (Stage 3: 7.9%) Aumento de NPLs de Curto Prazo Risco Concentrado no Santander
Custo de Risco / PDD Estável a Controlado Elevado (Aumento de Provisões) SANB11 Sob Pressão de PDD