Usiminas 3T25: O Prejuízo Contábil Explicado (Impairment para Leigos)
USIMINAS NO 3T25: O PREJUÍZO "FALSO" E O ALERTA SOBRE A INDÚSTRIA

O que Aconteceu? Um Prejuízo que Não Saiu do Caixa

No terceiro trimestre de 2025 (3T25), a Usiminas registrou um prejuízo bilionário. No entanto, é crucial entender que **esse dinheiro não sumiu do caixa da empresa**. O problema é de natureza puramente contábil e se chama **Impairment** (ou Teste de Recuperabilidade).

Impairment (Desvalorização Contábil): O Conceito para Leigos

Imagine que você comprou uma máquina de fazer pão por R$ 10.000 (este é o **valor contábil**, o custo histórico no balanço). Na época, você calculou que ela renderia R$ 20.000 em lucros futuros. Mas, de repente, surgem muitos concorrentes vendendo pão muito mais barato (o "aço importado"). Agora, você olha para a máquina e conclui que, por causa da concorrência, ela só vai render R$ 6.000 em lucros futuros.

A contabilidade exige que você seja realista. Se a máquina só vai render R$ 6.000, mas está registrada por R$ 10.000, a empresa deve registrar uma **perda de R$ 4.000** no papel. Essa perda é o **Impairment**.

A máquina continua lá e funcionando. Você não gastou R$ 4.000 a mais no período. Apenas corrigiu a expectativa de valor futuro.

Por Que a Usiminas Fez Isso? (O Gatilho da Desvalorização)

A Usiminas é uma empresa de Siderurgia (faz aço). Ela tem ativos gigantescos, como fornos e laminadores (a "máquina de fazer pão"). Esses ativos estão registrados no balanço por um certo valor. A lei contábil obriga a empresa a checar, de tempos em tempos, se esses ativos ainda valem o que está no papel.

O Gatilho foi a "Guerra do Aço":

  • O mercado de aços planos no Brasil foi inundado por um volume recorde de **aço importado**, principalmente da China.
  • A Usiminas afirma que esse aço chega em condições de **competição desleal** ou *dumping* (vendido no Brasil por um preço menor do que custaria para produzir).

A Revisão da Expectativa de Lucro:

Com essa concorrência desleal, a Usiminas foi forçada a fazer uma revisão drástica. Ela concluiu que, no futuro, terá que vender o aço por preços muito mais baixos ou em volumes menores do que esperava. Em termos técnicos, as projeções de **fluxo de caixa futuro** (os lucros futuros esperados) da unidade de Siderurgia caíram.

O Efeito do Impairment de R$ 2,226 Bilhões

O ajuste total de **$R\$2.226$ milhões** é a diferença entre:

  1. O valor pelo qual os fornos, laminadores e outros ativos da Siderurgia estão registrados no balanço (o custo histórico);
  2. O novo valor que esses ativos "valem" (o **valor recuperável**), com base nas novas projeções de lucro, mais baixas por causa da concorrência.

O Significado para o Leigo:

Esta desvalorização não significa que a gestão da Usiminas falhou no dia a dia (o desempenho operacional, medido pelo lucro antes de juros e impostos, até melhorou no trimestre). O que ela significa é um alerta poderoso:

O Impairment é uma admissão formal e auditada de que o **risco externo** (a falta de proteção contra a concorrência desleal) está destruindo o valor de longo prazo da fábrica brasileira. A Usiminas está dizendo ao mercado e ao governo: "Nossa capacidade de gerar valor futuro está sendo permanentemente corroída pela inação regulatória."

Ou seja, é um prejuízo no papel que reflete um pessimismo real sobre as condições de mercado de longo prazo, causado pela falta de "jogo limpo" no setor de aço.

ANÁLISE PROFUNDA DOS RESULTADOS DA USIMINAS NO 3T25
ANÁLISE PROFUNDA DOS RESULTADOS DA USIMINAS NO 3T25: IMPAIRMENT, RISCO REGULATÓRIO E RESILIÊNCIA DE CAIXA

I. SÍNTESE EXECUTIVA: O RESULTADO CONTÁBIL VS. A REALIDADE OPERACIONAL

O terceiro trimestre de 2025 (3T25) da Usiminas – Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. – foi caracterizado por uma marcante dissociação entre os resultados apresentados na Demonstração do Resultado (DRE) e a performance subjacente operacional e de liquidez da Companhia. Enquanto o balanço e a geração de caixa se fortaleceram significativamente, o Lucro Líquido foi revertido em um prejuízo bilionário, o pior registrado pela Companhia desde 2017.1

O Prejuízo Líquido Consolidado atingiu $(R\$3.503)$ milhões no 3T25, revertendo o lucro líquido de R$ 128 milhões apurado no trimestre imediatamente anterior (2T25).2 Este resultado negativo não foi impulsionado por um declínio na performance de curto prazo ou por problemas de liquidez, mas sim pela contabilização de um evento não recorrente de aproximadamente $R\$3.6$ bilhões.1

Os componentes desta perda não recorrente são de natureza puramente contábil e não afetam o caixa da empresa no período.1 O valor total do ajuste resultou da soma de uma perda por Impairment (desvalorização) de ativos operacionais no montante de $R\$2.226$ milhões e um ajuste negativo de $R\$1.4$ bilhão referente à avaliação de recuperabilidade de Ativos Fiscais Diferidos.2 Este ajuste é uma manifestação formal da reavaliação de longo prazo sobre a capacidade futura de geração de caixa dos ativos, principalmente na unidade de Siderurgia, frente a um ambiente competitivo estruturalmente deteriorado.

Em contraste direto com o prejuízo contábil, a performance operacional recorrente e a gestão financeira demonstraram notável robustez. O EBITDA Ajustado Consolidado foi de $R\$434$ milhões no 3T25, representando um crescimento de 6,4% em relação aos $R\$408$ milhões registrados no 2T25.1 Se o efeito contábil de $R\$3.6$ bilhões fosse excluído, o Lucro Líquido Recorrente (Pro Forma) do trimestre seria positivo, estimado em cerca de $R\$123$ milhões.4

Do ponto de vista financeiro, o trimestre foi um destaque de excelência em gestão de capital. A Companhia registrou o maior Fluxo de Caixa Livre (FCF) dos últimos dois anos, totalizando $R\$613$ milhões positivos, impulsionado por uma expressiva redução no Capital de Giro.1 Consequentemente, a Dívida Líquida apresentou uma redução acentuada de 69% em relação ao 2T25, encerrando o período em $R\$327$ milhões. Este resultado levou o índice de alavancagem (Dívida Líquida/EBITDA Ajustado LTM) ao patamar de 0,16x, o mais baixo desde o final de 2023.1

O evento contábil bilionário, portanto, não sinaliza uma crise operacional ou de liquidez de curto prazo, mas sim uma formalização do pessimismo quanto ao ambiente de mercado de longo prazo, particularmente a pressão sobre preços e volumes causada pela persistente competição desleal de importações.

II. ANATOMIA DO EVENTO NÃO RECORRENTE DE R$ 3,6 BILHÕES

O prejuízo líquido reportado no 3T25 é predominantemente um reflexo da aplicação do princípio contábil da recuperabilidade de ativos, conforme estabelecido pelo CPC 01 (Redução ao Valor Recuperável de Ativos) e a norma internacional IAS 36 (Impairment of Assets). A administração foi obrigada a realizar um teste de impairment devido aos indicadores de mercado que sinalizavam a possibilidade de o valor contábil dos ativos exceder seu valor recuperável.5

A Aplicação do Teste de Recuperabilidade (Impairment)

O gatilho primário para a realização desta reavaliação de longo prazo foi a deterioração acelerada das condições concorrenciais no mercado de aços planos no Brasil.4 A presença contínua de volumes recordes de importações de aço em condições de competição desleal forçou a Companhia a revisar as projeções de fluxo de caixa futuro descontado (Valor em Uso) para suas Unidades Geradoras de Caixa (UGCs).

O Impairment de Ativos, totalizando $R\$2.226$ milhões 2, representa a diferença entre o valor contábil dos ativos de longo prazo e seu valor recuperável revisado. Este ajuste reflete que o valor econômico futuro esperado da principal unidade de negócios da Companhia, a Siderurgia, é inferior ao seu custo histórico registrado no balanço.

Esta desvalorização é uma admissão formal e auditada de que as premissas de precificação e volume de vendas de longo prazo para os ativos da Siderurgia foram significativamente reduzidas. A perda de valor não está ligada a falhas na gestão operacional corrente – que, como será detalhado, demonstra melhorias – mas sim a um risco externo crônico: a ineficácia regulatória em proteger o mercado local. O impairment funciona como um sinal poderoso para o mercado e os formuladores de políticas de que a capacidade de capitalização e a viabilidade de longo prazo da indústria nacional estão sendo corroídas pela concorrência predatória.

Ajuste de Ativos Fiscais Diferidos (AFD)

O segundo componente significativo da perda contábil foi o ajuste negativo de $R\$1.4$ bilhão na recuperabilidade dos Ativos Fiscais Diferidos.1

Os AFDs representam créditos fiscais que só podem ser realizados se a empresa gerar lucro tributável suficiente no futuro. O Lucro (Prejuízo) Líquido acumulado no período de nove meses encerrado em 30 de setembro de 2025 (9M25) foi de $(R\$3.038.716)$ mil no consolidado.3 Quando a Companhia realiza um impairment em seus ativos operacionais, isso implica uma redução nas projeções de rentabilidade futura (Valor em Uso da UGC). Consequentemente, a probabilidade de realizar integralmente esses créditos fiscais diminui.

A baixa dos AFDs segue, portanto, a lógica da desvalorização dos ativos operacionais. Se a projeção de rentabilidade é comprometida pela pressão de mercado, a certeza da realização dos créditos fiscais também deve ser reavaliada para ser conservadora.

Performance Recorrente (Pro Forma)

É essencial isolar a performance operacional recorrente da Companhia, excluindo estes lançamentos de natureza não monetária.

Tabela 1: Demonstração do Resultado Consolidada Simplificada (R$ Milhões)

Item 3T25 Reportado Ajustes Não Recorrentes 3T25 Recorrente (Pro Forma) 2T25 Reportado
Receita Líquida 3 6.604.238 0 6.604.238 6.626.381
Lucro Bruto 3 446.504 0 446.504 493.191
Lucro (Prejuízo) Operacional 3 (2.069.853) 2.226.332 156.479 133.578
(-) Impairment de Ativos 3 (2.226.332) 2.226.332 0 0
Resultado Financeiro 3 (89.589) 0 (89.589) 145.421
Imposto de Renda e Contribuição Social (Estimado) (1.345.513) $\approx$ 1.400.000 54.487 (17.332)
Lucro (Prejuízo) Líquido do Exercício 3 (3.503.338) 3.626.332 122.994 127.623
EBITDA Ajustado 1 434.000 0 434.000 408.000

A análise pro forma demonstra que, desconsiderando os ajustes de desvalorização e impostos diferidos, a Companhia teria reportado um Lucro Líquido de aproximadamente $R\$123$ milhões, um valor que está em linha com o resultado do 2T25 ($R\$128$ milhões) e que reflete a resiliência operacional alcançada no período.2

III. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL RECORRENTE (EX-IMPAIRMENT)

Apesar dos ventos contrários do mercado e do ajuste contábil, o desempenho operacional medido pelo EBITDA ajustado e pela eficiência de custos demonstrou melhora sequencial no 3T25.

Análise Consolidada e de Custos

O EBITDA Ajustado Consolidado atingiu $R\$434$ milhões, o que representa um aumento de 6,4% em relação ao trimestre anterior (2T25: $R\$408$ milhões).1 Esta performance positiva foi sustentada por um aumento no volume de vendas em ambos os segmentos de Aço e Minério de Ferro, acompanhado por uma significativa melhoria na eficiência de custos da Siderurgia.3

A Companhia conseguiu registrar uma redução de 3% no Custo dos Produtos Vendidos por tonelada (CPV/t).3 Este resultado é crítico, pois indica que os ganhos de eficiência resultantes da reforma e do ramp-up do Alto-Forno 3 em Ipatinga, que estava em andamento desde o final de 2023 3, estão se materializando na estrutura de custos. Os menores preços das matérias-primas também contribuíram para a queda do CPV/t, compensando os efeitos negativos de Preço/Mix de vendas que foram observados.3

Segmento Siderurgia

A unidade de Siderurgia, a mais exposta à competição desleal, demonstrou capacidade de sustentar volumes e eficiência. O volume de vendas de aço (1.104 kt) cresceu 2% em relação ao 2T25.3 As vendas no Mercado Interno, segmento mais rentável, alcançaram 991 mil toneladas, um aumento de 2,3% T/T, sinalizando uma demanda resiliente por parte dos clientes da Usiminas.2 A Receita Líquida do segmento manteve-se estável, alcançando $R\$6.6$ bilhões.2

O esforço para reduzir o CPV/t na Siderurgia representa a capitalização dos investimentos estratégicos realizados ($R\$2.7$ bilhões no Alto-Forno 3).3 O momento em que a Companhia atinge a eficiência máxima de produção, com custos mais baixos, coincide com a formalização da desvalorização de seus ativos. Esta situação demonstra que a maximização da eficiência interna está sendo neutralizada pela predação de preço no mercado doméstico, transformando o impairment em um custo do ambiente de mercado desprotegido.

Segmento Mineração (MUSA)

O segmento de Mineração, operado pela Mineração Usiminas S.A. (MUSA), atuou como um fator de estabilidade e crescimento do resultado recorrente. O volume de vendas de Minério de Ferro atingiu 2,5 milhões de toneladas no 3T25, o maior volume trimestral desde o 4T21.3

A Receita Líquida/t na Mineração aumentou, impulsionada pelos maiores preços internacionais de referência (IODEX 62% Fe CFR China) e pela aplicação de menores descontos por qualidade.2 O EBITDA Ajustado da Mineração alcançou $R\$130$ milhões, um aumento de 13% em relação ao trimestre anterior (2T25: $R\$115$ milhões), com margem de 14%.2 A Mineração, atuando em um mercado de commodity global, contrasta com a Siderurgia, onde a perda de valor está concentrada nos ativos de transformação expostos à concorrência desleal.

IV. CONTEXTO MACRO E RISCO COMPETITIVO: O FUNDAMENTO DO IMPAIRMENT

O registro da perda por desvalorização não é um evento isolado, mas sim a manifestação contábil da persistente e crescente crise de competição desleal que afeta a indústria siderúrgica brasileira, atuando como o principal risco estrutural de longo prazo.

Escalada da Competição Desleal

A Usiminas tem reiterado sua preocupação com o volume excessivo de importações, principalmente de aço de origem chinesa, que chega ao Brasil em condições de dumping e afeta diretamente a precificação e os volumes de venda no mercado interno.4

O volume importado de aços planos cresceu 33,1% nos nove primeiros meses de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024.4 A Companhia considera que o sistema de cotas-tarifa implementado em junho de 2024 (e renovado em 2025) foi ineficaz em conter o problema.3 O registro do impairment atua como um cálculo formal, inserido no balanço, que incorpora o risco de que os preços futuros do aço no Brasil serão permanentemente pressionados por volumes subsidiados, comprometendo a rentabilidade e o Valor em Uso dos ativos a longo prazo.

Reconhecimento Oficial da Prática de Dumping

A gravidade do cenário foi formalmente reconhecida através das investigações preliminares de antidumping conduzidas pelo governo brasileiro. Esses relatórios preliminares constataram a prática de dumping com margens significativas, chegando a até $US\$624/t$ para laminados a frio e $US\$575/t$ para revestidos.3

Embora a prática e o dano à indústria tenham sido comprovados, a administração observa que a não aplicação preliminar de uma medida efetiva de defesa comercial coloca o Brasil na contramão de outras grandes economias. A Usiminas cita o precedente de mercados como Estados Unidos, Europa e México, que têm implementado medidas robustas para garantir um ambiente competitivo justo.4

A decisão de efetuar o impairment reflete, portanto, uma incorporação prudente do risco regulatório futuro. A Companhia está contabilmente refletindo a probabilidade de que, sem uma resposta regulatória eficaz, a rentabilidade esperada para a UGC de Siderurgia será cronicamente baixa, levando à baixa do valor contábil dos ativos fixos. Esta baixa não é apenas um ajuste financeiro, mas sim uma sinalização da destruição de valor imposta pela falta de isonomia competitiva.

Impactos Amplos na Cadeia de Valor

O risco transcende o setor siderúrgico. Setores chave clientes da Usiminas também são impactados por importações excessivas. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicaram que o emplacamento de veículos leves importados cresceu 10,8% nos primeiros nove meses de 2025, em comparação com 2024, enquanto os veículos nacionais cresceram apenas 1,6%.4 Da mesma forma, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) reportou alta acumulada anual de 9,1% nas importações do setor, com um déficit comercial de $US\$12.9$ bilhões em 2025.4 A pressão sobre a cadeia de valor industrial brasileira agrava o cenário, reduzindo a demanda e a capacidade de repasse de preços para o aço.

V. ANÁLISE DE LIQUIDEZ E ESTRUTURA DE CAPITAL

Em um trimestre dominado pelo prejuízo contábil, a gestão da estrutura de capital e da liquidez da Usiminas destacou-se, demonstrando resiliência financeira que mitiga o impacto da baixa de ativos.

Geração de Caixa e FCF

O Fluxo de Caixa Livre (FCF) alcançou $R\$613$ milhões positivos, o que representa a maior geração de caixa livre em dois anos.1 Este resultado positivo foi primariamente consequência da eficiente gestão e liberação de Capital de Giro, que totalizou uma redução de $R\$586$ milhões no trimestre.4 O FCF é a métrica fundamental de saúde da Companhia, pois prova que o prejuízo contábil, por ser de natureza não monetária, não afeta a capacidade da Usiminas de honrar compromissos, investir ou fortalecer seu balanço.

O investimento (CAPEX) totalizou $R\$327$ milhões no 3T25 3, mantendo-se em níveis compatíveis com a manutenção e a continuidade dos investimentos estratégicos, demonstrando que o foco na eficiência operacional está sendo sustentado.

Gestão da Dívida e Alavancagem Histórica

A Companhia executou uma gestão de dívida agressiva e bem-sucedida, focada na desalavancagem e no alongamento do perfil de amortização.3 A Dívida Líquida foi drasticamente reduzida em 69% em relação ao 2T25, encerrando o 3T25 em $R\$327$ milhões.1 Esta redução foi reflexo de:

  • Redução da Dívida Bruta: A Companhia realizou o resgate antecipado dos Bonds remanescentes com vencimento em 2026, no valor de $US\$206$ milhões (equivalente a $R\$1.1$ bilhão), utilizando recursos do caixa proveniente de uma emissão de Bonds realizada no início de 2025.3 Além disso, realizou o resgate antecipado da 1a Série da 9a Emissão de Debêntures no valor de $R\$160$ milhões.3
  • Aumento da Posição de Caixa: O Caixa e Equivalentes de Caixa permaneceu robusto, totalizando $R\$6.036$ milhões.3

A alavancagem financeira, medida pela relação Dívida Líquida/EBITDA Ajustado LTM (últimos doze meses), caiu para 0,16x (vs. 0,50x no 2T25), atingindo o menor patamar desde o final de 2023.1

Tabela 2: Indicadores Chave de Estrutura de Capital (Consolidado - R$ Milhões)

Métrica 30/09/2025 (3T25) 30/06/2025 (2T25) 31/12/2024 (4T24)
Caixa e Aplicações 6.035.997 6.743.961 5.953.981
Dívida Líquida 327 1.046 937
Fluxo de Caixa Livre (FCF) 613 28 N/A
Alavancagem (DL/EBITDA Ajustado LTM) 0,16x 0,50x 0,58x

O forte posicionamento de caixa e a mínima alavancagem demonstram que a Usiminas priorizou a fortificação do balanço para resistir a um cenário de estresse prolongado no mercado de aço. O balanço robusto, sustentado pela disciplina financeira, foi inclusive citado pela Administração como um fator que poderia possibilitar a deliberação de distribuição de dividendos ainda em 2025, apesar do resultado contábil negativo.1

VI. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ESTRATÉGICAS

O resultado reportado pela Usiminas no 3T25 é uma clara materialização de um risco estratégico e regulatório, e não de uma crise operacional ou de liquidez. O prejuízo líquido de $R\$3.5$ bilhões, impulsionado pelo impairment e pelo ajuste de AFDs (totalizando $R\$3.6$ bilhões), representa um evento não caixa que formaliza a baixa do valor contábil dos ativos de Siderurgia devido à expectativa de rentabilidade futura cronicamente deprimida pela competição desleal e pelo dumping.

A análise da performance recorrente, no entanto, revela uma gestão eficiente e resiliente. O EBITDA Ajustado de $R\$434$ milhões (crescimento de 6,4% T/T) e a substancial redução do CPV/t na Siderurgia confirmam que a gestão interna está capitalizando os investimentos estratégicos (exemplo: Alto-Forno 3). O fato de o Lucro Líquido Pro Forma ser positivo ($R\$123$ milhões) evidencia a dissociação entre a contabilidade de longo prazo e a performance de curto prazo.

O principal desafio da Companhia permanece no ambiente externo. A Usiminas está atingindo a eficiência máxima de custo em um momento em que essa vantagem é neutralizada pela entrada de aço subsidiado. O impairment atua como um poderoso sinal para os reguladores brasileiros sobre o custo da inação em face do dumping comprovado.3 A confiança da Companhia na aplicação de medidas efetivas de defesa comercial 4 deve ser monitorada, pois a tese de valor de longo prazo da Siderurgia depende intrinsecamente da correção dessas distorções competitivas.

Do ponto de vista financeiro, a Usiminas encerrou o 3T25 em uma posição de força defensiva incomparável. O Fluxo de Caixa Livre recorde de $R\$613$ milhões e a alavancagem de 0,16x (Dívida Líquida/EBITDA LTM) 1 asseguram que a Companhia possui a liquidez e a flexibilidade necessárias para atravessar um período prolongado de pressão sobre as margens, mantendo a capacidade de honrar sua dívida e potencialmente remunerar acionistas.

Recomenda-se que investidores e analistas mantenham o foco na capacidade de geração de Fluxo de Caixa Operacional e nos indicadores de eficiência de custos (CPV/t), em detrimento do resultado líquido contábil afetado por eventos não recorrentes. A Usiminas está blindada contra o risco de crédito, mas a destrava do valor de longo prazo dos seus ativos de Siderurgia está condicionada à resolução urgente e eficaz do risco regulatório e da competição desleal no mercado brasileiro.