IPCA-15 e IPCA (Out/2024 - Out/2025): Análise da Acurácia Preditiva e Impactos Macroeconômicos em Cenário de Desinflação
I. Introdução Executiva e Metodologia IBGE
I.A. Propósito do Relatório e Contexto Macroeconômico
O presente relatório fornece uma análise detalhada e comparativa entre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), cobrindo o período de Outubro de 2024 a Outubro de 2025. O objetivo central é avaliar a precisão preditiva do IPCA-15 como indicador antecedente da inflação oficial, conforme requisitado pela política de metas do Banco Central (BC).¹
O período sob escrutínio é economicamente relevante, caracterizado por uma desaceleração inflacionária geral, pontuada por episódios de volatilidade setorial intensa. A acurácia do IPCA-15 neste ambiente misto é fundamental, pois ele baliza a formação das expectativas do mercado e fornece uma leitura antecipada crucial para a calibração de modelos econômicos e a antecipação de decisões de política monetária.¹
I.B. Fundamentos: Distinções Estruturais e Metodológicas (Conceitos Simples)
Ambos os índices são calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e medem a variação de preços de uma cesta de consumo representativa para famílias com rendimentos mensais que variam de um a quarenta salários mínimos. Ambos utilizam a mesma estrutura metodológica, ponderação de produtos e serviços, e cobrem as mesmas áreas geográficas.⁵
- O IPCA é reconhecido como o índice oficial de inflação do Brasil. É a referência primária utilizada pelo Banco Central para monitorar o cumprimento do regime de metas inflacionárias (centro da meta atual: 3,00%).¹
- O IPCA-15 é concebido como a prévia do IPCA.¹ Sua utilidade reside em oferecer ao mercado uma leitura antecipada da tendência inflacionária, atuando como um sinalizador intermediário.
I.C. A Diferença Temporal Crítica: Períodos de Coleta
A distinção fundamental reside na janela de tempo em que os preços são coletados:
- IPCA-15 (Meio do Mês): A coleta de preços é realizada do dia 16 do mês anterior até o dia 15 do mês de referência.⁶
- IPCA (Mês Cheio): A coleta de preços abrange o período integral do mês civil, do dia 1º ao último dia (30 ou 31).
Essa assimetria temporal introduz o principal mecanismo de divergência. Se um evento de preço significativo ocorrer após o dia 15 (fim da coleta do IPCA-15), a prévia subestimará o índice cheio do IPCA.⁷
II. Série Histórica Comparada: Cronologia de Preços (Outubro 2024 – Outubro 2025)
II.A. Tabulação Cronológica: IPCA-15 vs. IPCA Mensal (%)
A Tabela 1 apresenta a variação mensal dos índices no período analisado.
Tabela 1: Comparativo Cronológico IPCA-15 e IPCA (Variação Mensal em %) – Out/2024 a Out/2025
| Mês/Ano |
IPCA-15 (%) |
IPCA (%) |
Diferença (p.p.) |
Aderência Qualitativa |
Fatores Chave (IPCA/IPCA-15) |
| Outubro/2024 |
N/D |
0,56 |
N/A |
Alta Pressão |
Habitação (Energia), Transportes (Passagens Aéreas em queda)³ |
| Janeiro/2025 |
N/D |
0,16 |
N/A |
Desaceleração |
N/A⁸ |
| Fevereiro/2025 |
1,23 |
1,31 |
0,08 |
Subestimação (Moderada) |
Choque em Habitação (Energia Elétrica) e Educação⁸ |
| Abril/2025 |
0,43 |
N/D |
N/A |
Desaceleração da Prévia |
N/A¹⁰ |
| Agosto/2025 |
-0,14 |
N/D |
N/A |
Forte Deflação na Prévia |
1º recuo desde 2023⁴ |
| Setembro/2025 |
0,48 |
0,48 |
0,00 |
Aderência Perfeita (Máxima) |
Sincronia na Variação de Preços¹¹ |
| Outubro/2025 |
0,18 |
A Divulgar |
N/A |
Desaceleração Forte |
Queda de energia elétrica (Regulado)¹³ |
II.B. Análise dos Períodos Chave de Volatilidade e Convergência
II.B.1. O Pico de Fevereiro de 2025: O IPCA atingiu 1,31%, enquanto o IPCA-15 (1,23%) subestimou o índice cheio em 0,08 p.p. O principal vetor de alta foi o grupo Habitação (energia elétrica), sugerindo que parte significativa dos reajustes regulados foi capturada apenas na segunda quinzena, validando a teoria do corte temporal como fonte de erro.⁸,⁹
II.B.2. Aderência e o Dado Recente: Em Setembro de 2025, a coincidência perfeita (0,48% em ambos) indicou uma dinâmica de preços homogênea. O IPCA-15 de Outubro de 2025 (0,18%) sinalizou uma forte desaceleração, puxada pela queda nos preços de energia elétrica, atuando como um alívio setorial.¹³,¹⁷
III. IPCA-15 como Indicador Preditivo: Análise de Acurácia e Desvios Setoriais
III.A. Avaliação Empírica da Precisão Preditiva
O IPCA-15 é extremamente eficaz em prever a direção e magnitude da inflação, sendo uma ferramenta robusta para calibrar expectativas.¹ Contudo, sua confiabilidade é condicional: o desvio de 0,08 p.p. em Fevereiro de 2025, rastreado a eventos na segunda metade do mês, mostra que a precisão é sensível a choques no *timing*.
III.B. O Papel Estrutural dos Fatores de Divergência
- A Sensibilidade aos Preços Regulados: Itens como energia elétrica e tarifas de transportes são o fator mais crítico de divergência. Reajustes regulatórios implementados após o dia 15 impactam o IPCA de forma mais severa do que o IPCA-15, tornando o grupo Habitação o principal vetor de erro na prévia.
- Volatilidade em Preços Livres Chave: Choques de alta frequência em preços livres, como gasolina, passagens aéreas e itens de Alimentação, também contribuem para a diferença.
IV. Implicações Macroeconômicas e Reflexos no Mercado Financeiro
IV.A. A Reação do Mercado e a Influência na Renda Fixa
O IPCA-15 atua como um catalisador imediato para o mercado de renda fixa (Títulos Tesouro IPCA+). Um resultado abaixo do esperado (e.g., 0,18% em Out/2025) reduz o risco inflacionário de curto prazo, o que leva a uma redução da taxa de juro real (yield) exigida pelos investidores. Por sua vez, essa queda na taxa provoca um aumento no preço unitário dos títulos, gerando o efeito de Marcação a Mercado.¹⁴
IV.B. O IPCA-15 na Estratégia do Banco Central (BC)
O BC monitora o IPCA-15 para avaliar a ancoragem das expectativas. Resultados de desinflação reforçam a visão de convergência para a meta (3,00%) e a eficácia da política monetária restritiva. No entanto, o BC adota cautela, pois o IPCA-15 é um sinalizador, e não o determinante final da trajetória da taxa Selic, que foca em um horizonte de política mais longo (2026/2027).¹⁸
V. Síntese e Conclusões Técnicas
V.A. Conclusão sobre a Confiabilidade Preditiva
O IPCA-15 cumpre seu papel de prévia confiável da tendência inflacionária, com alta correlação com o IPCA.¹ Sua vulnerabilidade reside na incapacidade de capturar choques de preços regulados que ocorrem após o dia 15, resultando em subestimação do índice cheio, como visto em Fevereiro de 2025.⁸
V.B. Recomendações para Modelagem
Para mitigar o erro de previsão, analistas devem:
- Ajuste para Preços Regulados: Aplicar um modelo de ajuste (uplift) para incorporar reajustes de preços regulados (Habitação e Transportes) que têm data de vigência entre o dia 16 e o final do mês.
- Monitoramento da Volatilidade Setorial: Acompanhar diariamente a volatilidade em itens como combustíveis e alimentos.
- Uso de Métricas de Erro: Incorporar o histórico do Erro Absoluto Médio (MAE) para estabelecer um intervalo de confiança para a projeção do IPCA.²¹
Referências (Parcial):
¹ IPCA-15: Entenda o que é e para que serve esse indicador de inflação (Suno); ² IPCA-15, inflação (IBGE); ³ Inflação de Outubro de 2024 (IBGE); ⁴ IPCA-15 agosto (IBGE); ⁵ IPCA vs IPCA-15 (InfoMoney); ⁶ Período de coleta IPCA-15 (IBGE); ⁷ Diferença IPCA-15 e IPCA (Ouro Preto Investimentos); ⁸ Inflação de Fevereiro de 2025 (IBGE); ⁹ IPCA-15 Fevereiro 2025 (IBGE); ¹⁰ IPCA-15 Abril 2025 (IBGE); ¹¹ IPCA-15 Setembro 2025 (IBGE); ¹² IPCA Setembro 2025 (IBGE); ¹³ IPCA-15 Outubro 2025 (IBGE); ¹⁴ Reação do Mercado ao IPCA-15 (Infomoney); ¹⁵ Dinâmica Alimentação (IBGE); ¹⁷ Queda de Energia Elétrica (Agência Brasil); ¹⁸ Análise BC/Juros (Estadão); ¹⁹ Expectativa Selic (Focus); ²¹ Uso de MAE (Recomendação Técnica). (Nota: As referências foram simplificadas para o contexto do HTML.)